2.3.07

Cap 5: Quem é essa estranho no ninho?

A resposta para aquela pergunta seria o ponto auge da minha vida e ela tinha quer ser positiva. Para aumentar ainda mais minha ansiedade, que a todo custo eu tentava esconder impedindo que minhas mãos parecessem trêmulas, o telefone toca:

_ O que? Você caiu?_ Daniel fez uma careta de susto ao atender o telefone. _Onde você está? No parque, claro, to indo pra aí._ desligou e olhou para mim.

_Aconteceu alguma coisa grave?

_É, minha namorada torceu o pé. Desculpe, mas eu vou ter que correr...

_Hum, claro..._ consenti com a cabeça. Agora seríamos expulsos dali e eu teria que aguardar o bendito telefone que todos prometem fazer aos candidatos a emprego, mas que nunca fazem.

_ Ele deu um tapinha na testa se lembrando de algo._ Pior que eu tinha que receber os figurinos da peça que vão chegar..._ Olhou o relógio prateado no pulso._ Daqui a pouco.

_Eu recebo!_ falei prontamente, oportunidades são coisas que, nas condições que vão a minha vida, não podemos deixar passar._ Eu posso ficar aqui, resolver isso para você.

_Você?_ Ele olhou para mim agora com real atenção e não podia negar que precisava de ajuda._ Tudo bem. O parque é aqui perto, dependendo chego até antes... As pessoas da Companhia vão chegar, abre o portão para elas. O portão você abre através do interfone lá na cozinha._ apontou._ E tem os alunos novos que...

_Deixa comigo! Vai logo!_ falei para que ele confiasse em mim._ Ela deve estar morrendo de dor.

Eu sei o quanto isso é condenável, mas esse pé da namorada dele me pareceu um empurrãozinho divino, perdoe-me, Deus, pelo trocadilho.

Daniel saiu correndo e eu finalmente estava ali com as mãos na cintura. Eu conseguira!

_Rique, você está comendo esse lixo!_ tomei a pizza da mão dele, mas um pedaço ainda tinha ficado na boca e me embolei no varal de queijo._ Cospe isso! Cospe!_ mandei._ Olhe suas mãos cheias de Katchup!_ Balancei a cabeça para os lados e peguei-o pelo braço.

Atravessei um corredor que levava até a cozinha e o coloquei sentado em cima da pia:

_Essa comida vai te fazer ficar gordo, com as veias do coração entupidas, cheias de oxidantes...

_Eu vou ter que vomitar?_ Rique perguntou enquanto enfiava as mãos debaixo d’água e eu enchia-a de detergente.

_Não, agora já era!_ falei irritada._ Agora você vai ficar sentado quietinho na sala, vendo televisão.

A casa parece que tomou vida própria poucos minutos depois que Daniel saiu. O interfone não parou de tocar. Recebi três jovens no portão:

_Oi, deixa eu me apresentar, eu sou a Angélica, o Daniel me contratou para ser a administradora daqui. Ele deu uma saidinha, mas já volta. Vocês quem são?

_Felipe._ um rapaz de gorro na cabeça e cabelo comprido apertou minha mão.
_Eu sou a Taieko._ a japonesa sorriu timidamente e também se apresentou.
_Nós somos da companhia de teatro, a gente vai para a sala de ensaios, então. _ informou o Felipe.
_Claro. _ Consenti com a cabeça._ E você quem é?_ perguntei ao rapaz que ficou parado e com o olhar perdido na direção em que iam os dois amigos.
_Anderson._ respondeu simplesmente e tomou o mesmo rumo, sem aperto de mãos, sem qualquer afetividade. Ele não devia estar num bom dia.

Rique colocou a cabecinha na porta:
_Mãe, o telefone está tocando.
_Ah! Eu já vou._ respondi correndo para dentro._ Fique no lugar onde eu mandei._ lembrei-o.

Corri até uma sala de onde vinha o som do telefone e deparei-me com um aconchegante escritório. Ou seria biblioteca? Havia muitos livros.

_Alô?_ atendi.
_Eu sou a mãe de uma aluna das aulas de violão. Eu queria..._ a mulher começou a contar que não poderia pagar a rematrícula naquele mês e depois dela veio outro e mais outro telefonema que tive que desenrolar no chute e na intuição, sem Daniel para me apoiar. Mas tudo ia muito bem. Eu disse ia:

_Ai, eu não acredito!_ ouvi um grito vindo da sala. Franzi a testa e corri para lá.

Daniel estava de volta com a sua namorada no colo. Deixou-a sentada no sofá com seu gesso ainda molhado e pesado em cima de uma almofada. Estava sujando tudo. Que aflição.

_Como essa desgraça pode acontecer?! _ ela só sabia gritar.

_Não fala "desgraça"._ Rique consertou.
_Rique!_ olhei-o de cara feia.
_Mas, mãe, você não diz que essa palavra é feia?
_Rique os outros podem falar..._ disse baixinho, super sem graça.
_Ah! Podem? Por quê?_ ele franziu a testa.
_ Rique vai ver tv?!_ falei entre os dentes e depois sorri constrangida.

_Quem é você?_ a garota se deu conta da minha presença e parece que não gostou do que viu._ Essa é a administradora de quem me falou?_ apontou para mim e olhou fuzilante para Daniel.

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