6.3.07

Cap 7: Diário de uma mulher de família

_A peça conta...
_Uma mulher...

Taieko e Felipe falaram ao mesmo tempo e Angélica riu.

_Daniel, é melhor você contar. Foi você quem escreveu. _ Anderson deu um tapinha nas costas do amigo e sentou-se formando um círculo.
_Ah! Você quem escreveu? Nossa, agora estou curiosíssima! _ Angélica empolgou-se.
_Foi._ ele sorriu timidamente e resumiu: _ O nome da peça é “Diário de uma mulher de família”. É uma comédia de costumes. Uma mulher que aparentemente é toda certinha, inventa mil histórias e escreve no diário. Tudo mentira, claro. Mas são desejos reprimidos.
_Que tipo de histórias?_ Angélica estava realmente interessada.
_ A Taieko interpreta a amiga da Catarina. O Anderson é o marido certinho e chato. O Felipe é o filho e eu sou o cara com quem ela tem todos os sonhos.
_Ah! Entendi porque você escreveu..._ Angélica riu e os outros três a seguiram em uma grande gargalhada.
_Você escreveu a peça pensando na sua namorada?_ ela tocou no ponto. _ Será difícil substituí-la.
_Não! Eu tinha uma mulher imaginária na minha cabeça. Uma que fosse realmente certinha, tivesse todos os trejeitos... _ Daniel contou._ A Patrícia, claro, interpreta muito bem a parte desinibida dela... Acho difícil encontrar alguém que faça ambos os lados da moeda. Tem que ter muita naturalidade.

O celular de Daniel tocou e ele se afastou do grupo, procurou a janela. Era sua mãe retornando o telefonema que havia feito para ela de manhã.

_ Que foi, filhote?_ ela sempre com seu ar jovial, mas Daniel não estava para brincadeira.
_Mãe, que mulher é essa? Da onde ela saiu?
_Eu já disse. Por quê? Achou que não vai precisar dela?
_Vou._ ele teve que concordar que Angélica caíra como uma luva._ Mas ela veio com filho e tudo... Mãe, isso está muito mal explicado.
_O que quer mais que eu diga?_ Daniela sabia que não poderia esconder muito tempo do filho, ele era esperto demais. Só que prometera guardar aquele segredo.
_O que eu faço com ela? _ Daniel não costumava pedir opinião, mas não sabia como agir.
_Ora, deixa ela dormir no quarto de empregadas com o filho. E se entrega a sua peça de corpo e alma. Ou prefere que eu vá para aí te...
_Não! Eu me entendo com ela!_ cortou. Tudo que menos precisava era sua mãe paparicando-o para cima e para baixo.

Os dias se passaram e todas as pessoas que Daniel tinha em mente não se encaixaram no papel que ele precisava a todo custo preencher. Muito pertubado com isso, atravessou a madrugada sentando no sofá, com os próprios pensamentos. Como o reflexo da luz estava iluminando o chão da cozinha, Angélica foi averiguar se alguma lâmpada estava acesa indevidamente. Tinha apenas ido beber água, a noite estava absurdamente quente.

_Eu estou aqui._ Daniel levantou a mão e sorriu cansado. Atirou os papéis em cima da mesa de centro.

_Desculpe. Está sem sono?
_Sabe quando seus problemas não te deixam dormir?!
_Sei. Oh! Se sei..._ ela caminhou descalça e sentou ao seu lado, apanhou as folhas dos scripts.
_Estava tudo tão certo! Tão perfeito. E agora? Como vou pagar tudo isso, como vou...
_Hei! Por que está cantando derrota?_ Angélica tocou em seu braço e fez com que parasse de falar. _ Ainda está em tempo.
_Em tempo? Você não sabe como é isso?!Como funciona. To queimado, entendeu bem? Queimado, ferrado, fudido. Tudo no particípio! _ Daniel levantou-se explodindo.
_Hei! Vai dar tudo certo. Eu posso te ajudar a passar o texto. Você vai interpretando e eu vou conferindo... Pelo menos nas peças da escola era assim._ ela se propôs timidamente.

Daniel olhou-a complacente. Sorriu, percebendo que não devia falar daquela maneira despejando tudo em cima dela, não tinha culpa de ter tido um grande erro no percurso da sua peça.

_Você vai acabar espairecendo a cabeça..._ ela tomou o papel, realmente levando aquilo à sério.
_Não quero atrapalhar seu sono.
_Com esse calor?_ Angélica riu.
_Ora, tira a roupa e cai na piscina. Ninguém vai ver, prometo.
_Não!_ Angélica encolheu-se e abraçou-se, puxando as pontas da blusa do pijama, como se entrasse de volta na ostra. _ Eu não faço isso. Eu sou uma mulher séria... _ levantou-se. _ É melhor eu deixá-lo em paz.
_Angélica!_ Ele correu atrás dela e a puxou pelo braço. Seus olhos brilhavam como pirata que achou o tesouro perdido._ Faz isso de novo?
_Isso o quê?_ ela sorriu nervosa.
_Exatamente isso! Você consegue repetir o que fez? Era você! _ ele conteve-se para não gritar.
_ Eu quem, o quê?_ Angélica fez uma careta.
_ Era você na minha cabeça quando escrevi a peça.
_Não, não, eu não faço isso. Não é certo... _ ela esquivou-se e puxou os braços. _ Eu não posso interpretar esse papel. Eu não sei...
_Não sabe ou não quer? Eu vou te pagar por isso e...
_Não! Daniel, eu sou uma mulher séria, não vou ficar fazendo essas coisas aí.
_Hei! Isso é profissional. Isso é uma interpretação, como bem disse. Não será você.
_Por favor, não confunda. Eu sou só sua empregada e esquece isso... _ Ela fugiu para o quarto em passos miúdos.

Daniel sorriu, mordeu a ponta do dedo e sentiu que nem tudo estava perdido. Ele só não sabia que convencê-la seria a tarefa mais difícil da sua vida.

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