12.2.07

3 Na linha

_Olha a melancia, vai melancia, senhora?_ perguntou o vendedor, oferecendo um pedaço da fruta para Angélica. A moça olhou por cima dos óculos, examinou, não provou. Sabe-se lá onde ele colocou a mão?

Já estava bom aquelas sacolas. Não tinha dinheiro assim para esbanjar e comprar a feira inteira. Por mais que desejasse ver o filho Henrique o mais saudável possível.

_Rique não!_ fez um sinal negativo com o dedo, quando o menino apontou para a banca de pastel e cana._ Cana dá doença! É! Uns bichinhos que matam a pessoa! É isso mesmo... E esse pastel aí tem dias sendo frito na mesma gordura!

O menino esperneou e antes que pudesse chamar atenção com sua pirraça, Angélica abaixou-se e segurou-o pelos bracinhos:

_Olha para mim! Pára com isso agora, tá me ouvindo?! Papai do céu vai te castigar! _ bateu na mão dele._Cala essa boca agora!_ falou bravamente e o menino engoliu o choro com os olhinhos marejados. Seus olhos azuis reluziram com a luz do sol. O cabelo dourado espetado para cima o fazia parecer um pingo de ouro, um lindo garotinho em seus nove anos muito bem espertos.

_Mãe, eu tô com fome._ reclamou Henrique, sentado no colo de Angélica no ônibus que levava os dois de volta para o hotel. _ A gente não vai ter casa, mãe?

_Você está muito perguntador, menino!_apertou o nariz espevitado do garoto._ A mamãe veio para o Rio tentar a vida aqui... _ falou pausadamente e beijou o rosto dele, envolvendo-o em um abraço._ Vou arrumar um emprego que a vovó conseguiu aqui...

_A gente vai voltar para Brasília quando?

_Se Deus quiser nunca mais..._ sorriu Angélica e fez sinal para descer. Gritou para o motorista esperar, porque tinha criança para descer junto. Primeiro fez Henrique descer os degraus, depois pegou as sacolas de compra. Estava ainda muito chocada com a história da mãe que recentemente teve seu filho arrastado por um carro, quando não dera tempo de tirá-lo de dentro, após um assalto. Não saberia o que aconteceria se algo semelhante ocorresse com Rique. Ele era tudo de mais precioso que tinha.

Quem visse Angélica subindo pela ladeira, vislumbraria uma linda mulher recatadamente vestida, saia abaixo do joelho, cabelo amarrado em um coque, trazendo pela mão seu filhinho. Mas ela era muito mais que isso...

Chegando no hotel, lavou uma maçã e deu para Rique que se contentou em ver televisão deitado na cama ao seu lado. O telefone celular tocou e ela atendeu:

_Alô?_disse ela.
_Alô, é a Angélica quem fala?
_Ela mesma.
_Oi, eu sou o Daniel, minha mãe falou com você sobre um trabalho como administradora...
_Claro!_ Angélica sentou-se, era tudo que estava esperando.
_Então, podíamos marcar de você vir até aqui?
_Quando quiser.
_Pode ser hoje?_ ele perguntou.
_Hoje?_ Angélica olhou para Rique, com quem deixaria o menino, ainda não tinha conseguido uma solução para isso._ Tudo bem, hoje.

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