14.3.07

Cap 10: O enigma da menina

“Eu podia ter puxado pelo cabelo e mandado ela dizer quem achava que era para sair sem me dar satisfações. Tudo bem, era sua vida, mas eu tinha o direito de saber. Tá, eu não tinha, mas era o mínimo, já que ela está aqui na minha casa. Os acontecimentos tomaram um rumo tal que nem mesmo sei como os fatos se desenrolaram naturalmente e hoje me enxergo absurdamente dependente dessa moça. Não duvido se amanhã eu vou ter que ligar do meu celular para o telefone do escritório e perguntar: “Angélica, onde está minha escova de dentes?”. Em um segundo ela é capaz de responder: “Na porta de baixo do armário, comprei uma nova”. Ela certamente não vai esquecer de esclarecer “Está tudo dentro do orçamento”.

Mas não era preciso ouvir mais do que eu chegara a saber essa tarde, na casa de minha mãe, onde já entrei com o pé atrás de desconfiança. Pedi que ela pulasse a parte em que achava que iria me enrolar e contasse logo a realidade. Só que eu não estava nem um pouco preparado para o que viria. Minha mãe foi até a estante da sala e pegou uma foto que sempre ficara no mesmo lugar. Era de um bebê do qual meus pais nunca quiseram me explicar, mas que sempre me assombrou. Estava morto, era alguém querido que sumira, ou a pessoa não se sabe onde foi parar? Foto sem legenda para mim é um arrepio.

Ela perguntou se eu estava vendo aquela criança. Como não, se fora aquilo que eu passei toda minha vida olhando para ver se decifrava o enigma da menina? Minha mãe Daniela me contou que fizera silêncio a pedido de meu pai. Fiquei sabendo, então, que meu pai tivera casado com uma mulher chamada Alice, que o traiu com seu melhor amigo. Eles se casaram e levaram consigo a criança que meu pai achara que era sua filha. Meu pai descobriu que a menina era, na verdade, filha de seu amigo. Nunca mais ele soube notícias deles. O que não se podia dizer o mesmo de minha mãe. Eis ai a parte que me trouxe mais assombro: a tal mulher era irmã de minha mãe. Conforme a história se desenrolava, aquela criança tomava vida na foto e na minha imaginação. Segundo minha mãe, meu pai era muitíssimo apegado a menina e sempre carregou essa dor. Seu orgulho não permitiu que perdoasse o amigo, nem que pedisse para ver a criança outra vez. Por isso, meu pai deixava em cima da estante da sala a imagem que ainda o fazia feliz. Aquele bebê sorrindo, de bochechas coradas ainda era no fundo da sua alma sua filha.

De repente, meu cérebro conectou as histórias e tudo virou uma grande de teia de aranha. Minha mãe respondeu o que eu temia: “Sim, a Angélica que você conhece é a filha da minha irmã e sua prima. Mas ela não sabe disso, porque a mãe dela não lhe contou nada sobre o passado com seu pai. Nem mesmo ela sabe que sou a tia. Para todos os efeitos sou só a amiga da mãe dela que quer ajudá-la a se estabelecer aqui.”

Eu estava boquiaberto e perguntei para minha mãe se havia mais coisas que eu precisava saber. Ela respirou fundo. Eram muitas verdades de uma única vez. Abrir tantos baús cansava. Mas ela estava dispostas a abrir o jogo... E o que me contou depois sobre a vida de Angélica foi a parte que mais mexeu comigo."

Daniel sentiu que o sono não permitia que seus olhos ficassem abertos mais e deixou o diário em baixo do travesseiro, estava cansado demais para guardá-lo. Adormeceu.

2 comentários:

Mercia disse...

UAU!!!!! o que ele sabe que não sabemos?? nossa... que curiosidade!!!!!

Bom, então ele sabe que os dois são primos... e acho que aos pouquinhos ele vai soltando a estória toda pra nós..

Muito bom, como sempre... estou aqui já desesperada pelos próximos capítulos!!
beijos

Li Mendi disse...

hahahaha
Vou tentar atualizar sempre o quanto puder.
Beijão Mercia