2.2.07

2 Daniel precisa de uma administradora

Daniel depois das onze horas da manhã era outro homem. Sim, um homem e não aquele garoto que você, leitor, encontrou ontem dormindo na cama. Se havia uma única coisa que levava a sério era a casa de cultura que administrava. Tudo começou com um grupo de teatro que montou no período de faculdade. Eles ensaiavam no antigo casarão que seu pai lhe cedera as chaves. O casarão fora fechado um ano antes do seu nascimento, quando seu Ricardo se mudara para um apartamento e casou com Daniela.

A idéia cresceu e dois anos depois de graduado em artes cênicas, ele reformulou todo o espaço para que fosse voltado para comportar sua equipe. Ricardo, seu pai, não esperava que o filho tivesse dom para as artes e sim para os números, mas não pode reclamar quanto a matemática daquela equação, pois ela já dava frutos e permitia que Daniel morasse sozinho e se sustentasse.

Só que as proporções do empreendimento de fato já ultrapassavam o controle do rapaz. Aquele conselho que sua mãe lhe dera não era de todo ruim: contratar alguém que pudesse ajudá-lo a organizar tudo e assim deixá-lo com tempo para ensaiar com sua companhia. Não lembrou onde tinha colocado o telefone, mas ele foi encontrado e não da melhor maneira:

_Quem é essa fulana?_ Patrícia esticou o papel no ar.

Daniel levantou os olhos do computador e depois ignorou, não tinha tempo para os showzinhos da namorada, precisava calcular as despesas do mês.

_Angélica..._ ela leu alto o nome contido no pequeno pedaço de papel e depois o atirou na mesa. _... Estava no bolso da sua calça.

_Ah! Sim, é uma pessoa que minha mãe indicou para..._ Daniel parou de falar, simplesmente havia escolhido a palavrinha mágica errada.

_Sua mãe? O que ela quer agora? Escolher a cor das suas cuecas?!_ Patrícia riu alto e depois tentou recuperar a calma._ Ela está te empurrando alguém para...?

_Patrícia?!_ Daniel levantou-se da cadeira e falou alto e com a voz grave._ Esse é o meu trabalho, essa é a minha casa e essa é a minha futura funcionária _apontou para o papel_, e você vai para cama comigo, preciso distribuir melhor os papéis?_ ele usou de toda a sua estupidez. Era raro atingir esse nível de insatisfação, mas Patrícia escolhera a pessoa errada para implicar, a mãe de Daniel era intocável.

Ele costumava dar corda para Patrícia, permitia que ela tivesse a sensação de que tinha o controle de tudo e que ele era seu cachorrinho, isso servia para suprir sua carência de estar longe de casa aos 25 anos. Mas chegava um limite em que ele voltava ao trono e a lembrava quem ela realmente era: uma atriz que fora elevada ao papel principal apenas pelo fato de gostar dela. Gostar, não amar, Daniel não conseguia ficar sozinho, gostava de uma companhia, ela era essa companhia.

_Estúpido!_ ela saíra choramingando e chutando tudo. Daniel revirou os olhos e respirou fundo. Não demoraria muito para que ela esquecesse e ligasse toda melosa. Seus olhos se prenderam no papel largado na mesa, levemente tremulando no vento.
“Ela é diferente, totalmente diferente”, a voz de sua mãe lhe veio a cabeça.
Discou o número e esperou chamar.
_Alô?_ a voz atendeu do outro lado.

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